mini

uma vida de expectativas não correspondidas

Eu me encantei pela moda desde muito jovem. (Ainda) Não sei porquê, mas sempre me senti atraída às roupas. Não pelas peças separadas, mas pelo conjunto que elas podiam formar e como a produção afetava a imagem da pessoa que a vestia. Na verdade, muito além disso: como a produção afetava muitos aspectos da pessoa que a vestia: o comportamento, a atitude e até as relações sociais. Vai dizer que você nunca quis ser amiga de uma garota com um look de babar? We all have been there. 

Por esse e muitos outros motivos que ainda preciso explorar, eu acredito que me sentia quase que abduzida por esse universo "mágico" (pelo menos nos meus pensamentos de pré-adolescente) da moda. Refletindo agora, enquanto escrevo, acho que sempre gostei muito mais de pessoas e produções estilosas que da indústria em si. Eu nunca entendi muito bem como as roupas são feitas (esse ano que procurei entender melhor sobre tecidos, modelagem e costura) ou quais estilistas tinham criado o quê e porquê ficaram com os nomes marcados na história, por exemplo (algo que também estou estudando atualmente). Muito embora eu sempre estivesse atualizada nas comunidades de moda no Orkut (alô, GWS!), fóruns (Fashion Spot, você ainda vive?) e nos blogs sobre o assunto. Os últimos, até então, ainda eram entendidos como diários abertos (mesmo que você não falasse da sua vida pessoal. Pois é!) do que como uma mídia com características próprias tal como conhecemos atualmente.

Enfim, com 12 anos, enquanto meus amigos passavam a tarde jogando The Sims, eu passava horas e horas do dia procurando fotos de celebridades como as gêmeas Olsen e Nicole Richie e de estrelas da web da época como Cory Kennedy e entrando sites cool como o Cobra Snake e o da revista Nylon buscando inspiração. Inspiração para a Chames que eu seria um dia: estilosa e com um visual impecável. A Chames que estou me preparando há anos para ser. Você sabe, "a melhor versão de mim".

A "melhor versão" que marcas, revistas e youtubers, por exemplo, sempre querem me ajudar a encontrar. Mas nem eu nem você vamos encontrar – pelo menos, não através do que eles prometem por aí. Porque ao contrário do que fazem a gente acreditar, a indústria LUCRA com a nossa insatisfação. A nossa insatisfação faz a gente comprar a nova blusinha que chegou nas araras para criar um visual legal e, assim, tentar encontrar nossa melhor versão. Ainda que gente tenha comprado uma bota over the knee na estação passada e mesmo assim não tenhamos conseguido chegar lá e ser o que estamos desejando ser a vida todinha, não é? Qual é, a indústria não quer que você tenha ~estilo próprio~, ela quer que você pense que tem um. 

Quantas compras não fiz pensando nos outros? Não no sentido de "ah, as pessoas vão me achar linda assim", nada disso. Mas no sentindo de "caralho, fulana usou isso assim, pode funcionar para mim". E nem venha me dizer que isso é coisa de fashion victim, viu? Com o Instagram no auge, isso acontece quase que naturalmente com a gente quando vemos um clique estiloso da fulaninha que seguimos. É só a Kim Kardashian sair com piercing na boca que eu já quero colocar um. E nem se resume em ser maria vai com as outras (no meu caso, maria vai com Kim rs), o ~buraco é mais embaixo~: tem a ver com poder, influência, marketing e, sim, minhas caras, com a gente também. Afinal, tudo que brilha nos nossos olhos (de coração) é um reflexo da nossa personalidade. 

Depois de anos e muito dinheiro gasto (que é bem diferente de investido), eu posso dizer que estou mentalmente cansada de buscar minha melhor versão – ainda que eu continue buscando. O cansaço, como faz na maioria das situações, me fez parar. E parar me fez refletir. E refletir, em um mundo que só quer que você siga o fluxo, é quase revolucionário. E aí eu pensei: "porra, por que diabos eu estou tentando ser a Chames que eu sempre quis ser olhando o feed da Bella fucking Hadid todos os dias?". Eu não tenho o mesmo corpo da Bella, eu não saio para os mesmo lugares que a Bella, eu não tenho a mesma vida que ela.  Eu pego busão, @deus. Por que diabos eu tento então reproduzir visualmente essas celebridades, blogueiras, sei lá mais os nomes que damos para essas famosas hoje em dia? Verdade seja dita: a gente tenta ser "a gente" olhando e buscando apenas no exterior.

Falta olhar para si. Falta, em tantos aspectos da vida ~moderna~, o autoconhecimento. Buscar compreender porque tomamos as decisões que tomamos, quais são nossas verdadeiras prioridades na vida, qual é o NOSSO estilo de vida. Se a gente fizer os cálculos, vamos perceber que gente vive uma vida que não podemos, de fato, sustentar. Aos 22 anos finalmente resolvi entender um pouquinho de finanças (a vida adulta chega aos poucos por aqui, e por aí?) e não demorou muito para eu perceber que eu, como muitas pessoas, finjo ter um padrão de vida que não me pertence. Quem nunca começou um mês cheio de dívidas? A gente tenta sustentar um padrão que não é a nossa realidade. Porque é MUITO é fácil de sermos convencidos que essa vida é nossa mesmo (é só investir no cartão de crédito, não é meixmo?). E, bem, é a vida que a gente quer, então esse convencimento é bem-vindo.

Então, percebendo um pouquinho essa situação, eu tentei me entender melhor. Ainda estou tentando, na verdade. E vou dizer que esse processo é doloroso. Tanta energia investida para percorrer um caminho que não chegaria em lugar nenhum. Mas ainda bem que existe outro caminho: o conhecimento. E esse, manas, é transformador.

E eu sei que esse textinho pode parecer fútil e que "ui! que dó dessa geração!", mas para mim ele não é. Um dias desses li um texto do Larusso em que ele dizia "eu não posso mudar o mundo, eu posso apenas mudar o meu mundo". Há tempos eu não me sentia tão conectada com uma frase quanto essa. Eu sei que ela parece perigosa em um mundo que aos poucos tenta trabalhar o coletivo. Mas, ao contrário, ela é poderosa: se eu não posso transformar meu universo particular e minhas insatisfações, como que eu vou tentar salvar o fucking mundo? Clichê? Talvez, mas um clichê que não é nem um pouco colocado em prática. Vários profissionais querem salvar um problema da empresa quando a vida profissional está uma merda; várias pessoas de diferentes militâncias tentam resolver problemas maiores quando a vida pessoal está uma merda – resolver dilemas da própria militância que não foram resolvidos internamente. 

Entender que eu comprei por impulso ou, em análise ~mais profunda~, por tentar alcançar uma maior autoestima, quatro calças jeans iguais e com a mesma proposta realmente não vai salvar trabalhadores em condições análogas à escravidão. Mas vai me ajudar a fazer compras  mais inteligentes e conscientes (no sentido mais puro que a palavra pode ter) no futuro. Compras mais conscientes e bem feitas podem me ajudar a ter um guarda-roupa que mais me ajude que me atrapalhe. Isso vai mudar meu mundo. Vai me deixar mais feliz. E felicidade gera felicidade, gente. O mundo pulsa energia. E se a gente está feliz, a gente tem mais felicidade para distribuir para aí. 
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